Viver Não é Preciso.

Passamos alguns dias pensando em como descrever aqui neste blog as nossas expectativas sobre o estilo de vida dos velejadores de cruzeiro que tanto almejamos. João Sombra, em seu livro Conversando com o Guardian, já o fez:
"É o desbravar de novos conhecimentos, de uma nova vida, na qual não há espaço para as mediocridades advindas do viver nos tumultuados centros urbanos.
É o viver na expressão mais ampla da palavra, saciando nossa fome de conhecimento e cultura.
É viver sem medo, traumas e tensões provocadas pela mente humana. Viver como aliados da natureza e suas incriveis nuanças."

terça-feira, 3 de abril de 2012

O Caribe é Aqui.

Aqui tem Sol, Mar Azul, Ilha Paradisíacas, Verão o Ano Todo e ... Furacões ?!?!?!?
Ai Caraca! No dia 24/03 passado, uma tempestade veio pra provar que cada vez mais precisamos ficar alertas com a Meteorologia e a segurança a bordo e nas ancoragens. Esteja sempre preparado para o pior. No verão, cansamos de deixar o barco aberto, com uma capinha pra proteger do Sol e coisa e tal e vamos passear na Praia. Em menos de 10 minutos o tempo fecha e pode ser uma correria pra segurar o barco e os pertences que ficam a mercê do vento e da chuva. O Hélio do Maracatu publicou em seu blog o relato do Webber - Veleiro Acauã que estava em Búzios no dia desta tempestade. 
Peço licença aos dois para divulgar aqui também, pois no mínimo serve de "aula" pra pensarmos no que acontece com o barco nestas condições e o que precisamos fazer e estarmos preparados.


"Sempre soube através de relatos de amigos que em Búzios venta quase que diariamente.  Antecipadamente  por recomendação do Maracatu e outros navegadores aconselham-me que o melhor lugar com menor influência dos ventos  e marolas seria a Praia dos Ossos, embora pequena e congestionada. Acatei e aqui estou, pois quem não sabe escuta quem tem experiência. Já no segundo dia tive que sair tastaviendo da cama, pois o GPS acionou o alarme de ancoragem e dito e feito, já estava entre as escunas, já começa a correria no convés que se faz necessário.

WebberAcauaWebber

Coloquei de pano de fundo no notebook, um programa  que abre o meteograma automaticamente (isto para não esquecer, até criar o hábito de averiguar as condições climáticas nas primeiras horas do dia). Assim estava funcionando, quando no sábado pela manhã (24/03) o meteograma mostrou formação de nuvens pesadas e ventos forte para o final da tarde, o VHF também confirmou a chegada de ventos fortes no final da tarde. Aproximadamente às 12:00 h  levantei ferro da Praia dos Ossos para  jogar novamente no meio da Orla Bardot, já que pouco importava onde ancora-se, pois todos estão vulneráveis a ventos do quadrante Leste. Obviamente  que reforcei a ancoragem, joguei dois ferros em linha, no mesmo cabo, dei 50 metros e fiquei separado a pelo menos 200 metros do último barco, estava mais sozinho que filhote de perdiz, pensei, esta gente depois que este vento passar, irá pegar o meu pé dizendo todas as gracinhas que vocês bem conhecem.
Eu nunca tinha visto uma sequência tão grande de raios e trovões e cada vez mais próximo,  escureceu totalmente, exatamente às 18:45 h escutei o forte barulho da chuva chegando, olhei para fora e não pude acreditar a massa de água vindo. Corri para o leme e liguei o motor quando o vento chegou,  o barco aproado a este vento achatou-se na água, como se uma grande mão tivesse se apoiado sobre o convés, aquilo acelerando cada vez mais. De repente passa por mim, como se fosse uma bala, o capacete de fibra da clarabóia do banheiro, que é fixado com sikaflex e o diabo do vento arrancou – se me pega no rosto o estrago seria grande! O capacete passou toda extensão do barco, bateu no suporte do motor de popa e levantou voo, e nunca o vi encostar na água, como se fosse um papel toalha. O barco neste instante adernou, pasme 45 graus!, e não voltou mais. Totalmente adernado, obviamente virando um caos dentro do barco (caiu tudo de bombordo), eu vi a cruzeta encostar na água e o maldito não subia, isto me atormentava, não podia crer no que via. Aumentei o giro do motor, pois eu já tinha dado avante, mas o que adiantava se o barco estava adernado? E assim fui de lado para a praia, como um tronco seco em córrego, passando entre as escunas totalmente adernado, soltando pedaços de toldos, bandeirolas, coletes, pedaços de madeiras (que não sei de onde surgiram), e neste ínterim, já preferindo abalroar uma escuna (ao menos seria uma parede), mas não parei, passei direto.
Ao chegar à praia a quilha encostou no fundo piorando ainda mais a adernada, ai sim a cruzeta entrou até a metade na água e ficou. O bote estava a contra bordo (do lado de boreste, que adernava), acreditem, ele só não embarcou no cockpit pela lateral por causa do último cabo de aço do púlpito, o Acauã literalmente deitou sobre o bote, o costado do bote arrancou a bóia circular do barco que fica lá em cima, mais da metade da altura da targa. Caos total quando o mar entrou por toda a lateral do cockpit, que não tinha vazão suficiente, fiquei dentro de uma piscina, tão cheia que a água tomou conta da gaiúta de entrada, fazendo uma pequena cascata nas escadas e obviamente preparando aquela grande sopa com os utensílios que estavam todas no paineiro, esperando o barco sair da maldita posição. Mas quando a desgraça se apresenta ela tenta ser completa, digo isto por que além do barulho do vento as duas malditas sirenes dos automáticos  das bombas e porão, ligadas pelos motivos óbvios (senti-me na cabine de comando de um Boeing caindo com o alarme sonoro avisando: tu vai te dar mal!).
Quando o vento diminuiu o barco tentou ficar equilibrado, mas a quilha batia no fundo e com as ondas parecia que a quilha iria empurrar os paineiros. Bem, depois de 20 minutos de terror, parou total, até mesmo a chuva se foi. Aí eu coloquei uma ancora no través, amarrado na ponta de uma adriça e com a catraca eu adernei o barco (minha habilidade nem perto da natureza neste quisto), mas o máximo que pude fazer. Com motor a pleno, leme no meio, eu na proa puxando o cabo de ancora que nem um doido, achava que minhas costas iriam rasgar-se ao meio, consegui desencalhar isto era quase 23:30 h. Voltando a águas mais profundas, foi a hora de olhar os estragos: um monte de eletrônicos boiando, perdi um monte de utensílios para o mar e até a geladeira parou, pois ficou dentro da água. Mas estou tentando colocar tudo em ordem, é a vida de quem esta no mar.
Todos nós já passamos por coisa parecida, isto é apenas um relato (por que não dizer um desabafo), para dividir com o amigo esta peleia, apesar das grandes avarias no barco e a grande perda de materiais, estou flutuando novamente. Arranhado um pouco no costado, mas nada importante. Com ventos de 55 nós, até minhas bombachas eu não sei aonde foram parar! Molhado, moral avariado, mas não se mixemos pros homens, pois não está morto quem peleia meu amigo. Saudações."

Mas é assim: é muito mais perigoso ir sacar uma Grana no Caixa Eletrônico ou atravessar uma rua fora, ou não, da faixa!..rsrs Essas histórias não podem desencorajar os iniciantes nem desestimular os iniciados. Faz parte e basta estar o mais atento e preparado possível.

Bju e bons Ventos Moderados.

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